quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

No Choise

Escolhi andar sob a chuva.
O calor correndo pelas minhas veias.
A cada passo, a cada gota que escorre pela pele.
No momento que cessar, meu peito ira partir
E tudo irá se esfriar.
Com o frio terei que lidar.
Ele encharca minhas roupas da tua paixão desprotegida.

Impossível ter escapado da carência.
Daquela de fibras fortes
Que circulava pelo quarto como um vírus
Exalando toda intensidade no ar.

Mas feita de um momento.
Apenas até o dia raiar
E os pés tocarem o chão em vertígem.
Continuar em frente
Até que uma alma cruze pela sua
E como imã permaneça sem escolha.

Ninguém, nem o ser mais frio, disso escapa.

Lucas Zeni

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Affection















Fiquei estranhamente de frente àquela face.
Uma expressão dupla confusa ali pairava,
Mas não sabia ao certo distinguir qual predominava.
Um instante lembrava aquela que desejava o novo com paixão
E em outro, só remetia à indiferença do que passou.

Essa era uma visão insatisfatória ao meu desejo,
Que ali batia e voltava uma saudade que lanhava com ímpeto.
Então, o peito é tomado por uma fisgada suspirante de tristeza
Ao lembrar-se de lembranças que poderiam existir de ti e de mim em tempos próximos.

Reservo meus dias a ter breves momentos de reflexão.
A maioria encontra-se no toque suave da tua pele na minha
E no sorriso travesso que completava a beleza do teu olhar.
Todo cuidado é pouco quando tudo isso se torna um vício.
Um vício que nasceu ao conhecer pela primeira vez a melodia da tua voz.

Claro que fica em mim a vontade latente em gritar verdades.
Daquelas que aliviam o incômodo e conhecido aperto no coração.
Norteando meu pólo de vida e acalentando-me um pouco de justiça.

Aproveito dias em que os ventos sopram
Para levar adiante e dissipar mágoas.

Em tempos de paredes feitas por orgulho
Quase desejamos nunca mais sentir afeição
Seja por outros olhares e sorrisos encantadores,
Seja por essa gente admirável de atitudes
Ou a falta delas por conveniência.

Só acredito que se o tempo para nós passou,
Não há dúvidas do quanto foi satisfatório cada momento.
Restou-me um lindo novo amanhecer de verão.
Assim como naquele verão em que vivemos incríveis
E singelas igualdades.

A amizade permanece
Na simples memória.

Lucas Zeni

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Soneto do Vazio

A dor percorre o trajeto do peito.
Aperta e quase tira o fôlego.
Investe no que é improvável e real.
Confunde sentimentos.
Sente-se todos e nada sabe.
Lágrimas pesadas tornam-se leves
Ao serem carregadas pelo vento entrando por tais janelas.
O semblante é contemplado por uma lua minguante na vasta imensidão escura.
E os pensamentos lentamente diminuem a velocidade.
O olhar em transe procura caminhos pela estrada,
Enquanto luzes de faróis parecem competir em uma corrida contra o tempo.
Sempre só.
E de mim mesmo, sinto um tanto de dó.
Quero queixar-se; quero outro sentido; outro sentir.
Penso e envergonho-me da minha estima fraca; de minha confiança abalada.
Fujo e faço-me invisível diante de um mundo que a cada dia corre mais rápido.
Só espero até de qualquer jeito e trejeito
Encarar-me timidamente através do reflexo.
Sem respostas, esperanças e euforia,
Despeço-me de mais um dia ao adormecer.
Olhos marejados e lacrimejantes esperam o pesar das pálpebras.
A torcida em nada.
Nada além do desligar.

Lucas Zeni

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Protestos e Suas Nuances

Inúmeros são os adjetivos que direcionavam aos grupos isolados de manifestantes: Vândalos, baderneiros, desocupados, depredadores do bem privado e público. Imagens dos rebeldes cheios de causas são mostradas nos canais de televisão e narradas demonstrando o total descontentamento e reprovação com a típica pitada de emoção incitando o medo. O resultado alerta para um gama de perigos em participar de novas reivindicações nas ruas. Afinal, como o jogador Ronaldo declarou, não se faz copa com hospitais.

A mídia desde sempre teve o poder intrínseco de orientar, do seu jeito, o rumo de diversas coisas através do modo como isso é transmitido. O ponto de vista mais evidente atrai a grande maioria do público. Isso ocorreu nas muitas manifestações pelo país em meados de julho de 2013. Sofremos com o descaso dos nossos governantes até que, esgotados, fomos aos bandos as ruas cheios de coragem, voz e patriotismo clamar em coro pedindo melhor consideração pelo transporte urbano, saúde, transparência, educação e um fim à corrupção. O povo brasileiro também enfrentou a ira de batalhões de choque agressivos e com total falta de tolerância e empatia aos pedidos de "Sem violência" da população. Como se não bastasse, o desrespeito veio também por parte da imprensa.

Se mesmo assim houver dúvidas, pense em todos esses anos em que vivemos sob os cuidados de uma democracia duvidosa. Aguentamos anos a fio os horários eleitorais gratuitos ouvindo figuras simpáticas e até engraçadas defendendo promessas vazias. De graça, só para eles. Para os cofres públicos, uma perda de mais de 4 milhões nos últimos 10 anos, segundo matéria publicada pela Zero Hora no dia 24 de julho de 2013. Conquistam o poder e são pegos pela doença semelhante a da guerra contra o tráfico de drogas: A corrupção. As duas com a mesma característica de serem uma causa perdida. E não é atoa que de tempos em tempos salários políticos aumentam seus dígitos enquanto a inflação bate à nossa porta. Julgam-se entre eles e dificilmente a justiça realmente é feita por lá. Enquanto isso, ficam de costas viradas para os nossos anseios. Os preceitos democráticos ficam extremamente bonitos usando máscaras ou peles de cordeiro.

Os protestos nasceram, sim, de uma parcela que conseguiu sair do emaranhado do empobrecimento cultural que é mostrado pela soberania para continuar mantendo todos calados e razoavelmente satisfeitos e empurrou outros indecisos pelo caminho para a linha de frente. O sentimento de dever cumprido encheu os brasileiros de orgulho e esvaziou ira guardada por todos os lados, de forma pacífica e brutal. Mantemo-nos no aguardo por um ano que promete eletrizar estruturas que sustentarão a copa e as eleições. A luta tende a ter uma sequência em que vai, definitivamente, mostrar que não existe revolução sem transtornos e país justo sem uma reforma no poder executivo.

Lucas Zeni

Teoria De Ser Alguém

És, primeiramente, um montante. De carne; de ossos; e incompleto. Partes do princípio como nos enredos atuais, mas faz trocas com o passado. O personagem central de um emaranhado de evoluções. Lentas em umas, aceleradas em outras. Vagas pela terra sem saber sobre a existência divina de qualquer espécie e se auto-intitulando agnóstico. O legítimo "em cima do muro" popularmente conhecido. Resmunga por muita coisinha que poderia deixar pra lá. Consegue às vezes, mas nem sempre. Os impulsos nervosos nunca param, e são implacáveis quando se diz respeito ao que você é.

Tens controle parcial do que te forma; do que te faz se comportar. O restante fica por conta do inalcançável. Isso é um segredo que não te contam. Há quem não saiba do fato também, por ora. O todo de alguém é parte de um sistema de engrenagens complexas. No princípio, precisas de parte desse sistema. Apenas o suficiente. Ao crescer, experiências acumuladas significam peças a mais de maturidade e evolução na mala. O peso aumenta anualmente, e fica mais cansativo carregar. Pelo caminho, perde-se diversas vezes. Andas pelo caminho da inércia até voltar a se encontrar novamente na outra quadra; ou a várias de si.

Diante de todas as lições aprendidas duramente até então, o sistema te gratifica com novas versões de princípios. Softwares cerebrais atualizados. E, bingo! Eis que manteve a essência viva, mas apresenta ao mundo aparelhagem nova. Assumes o posto de um ser adulto, independente, auto-suficiente e cheio de compromissos. Os lábios expressam outros significados mais sombrios. Tudo tem o "mais". Mais malícia, rebeldia com ou sem causa, ansiedade, crise, prazer, frieza, individualismo, responsabilidade, trabalho, aperfeiçoamento, escolha, decepção.

Sofres um desgaste natural com todo esse decorrer de fatos que são exteriorizados através da pele flácida e olhar defesso. Começas a cansar e deixar para lá certas coisas que antes faziam sentido no dia a dia. Inclusive esqueces-se de algumas. Até o dia em que dá-se conta de que o tempo passou em um piscar de cinco anos que mais pareceram, relativamente, poucos meses. E como é invencível. A mente fica um redemoinho só. Lotada de caminhos férteis e verdejantes; e outros que levam a cemitérios onde tuas memórias mais indesejáveis descansam tirando-te a paz. Se tens sorte, aprendes a calibrá-las para benefício próprio. Por fim, e por sorte, o tempo toma conta do espaço e ameniza traumas já antiquados ao seu novo "ser alguém".

O grande desafio de uma boa evolução requer um treinamento pesado, diário, crítico. Nossa espécie vive tão pouco tempo para tal maravilha. Uma lástima aceitar. Somos cheios de tudo e nos entediamos por isso também. Pobres sonhadores. Alvos tão vulneráveis aos caprichos e meias verdades do relógio, que só em ouvir o tic-tac, disparam jatos de ansiedade a cada bombeada. Buscamos respostas. E passamos a nossa existência vivendo e vivenciando ciclos. Até o fim.

Lucas Zeni

domingo, 16 de setembro de 2012

The End Of Melody


















Jogou-se para tão longe.
Acima do bem e do mal.
Agarrado a filetes de cordão.
Em um patamar platônico
E superestimado na ilusão.


Se te disser por aqui,
Adjetivos natos a teu respeito,
Peço-te, sem calma e rodeio,
Por uma paciência esgotada,
Uma alma apedrejada
E uma esperança cansada.


Chutando tuas pedras, eu sigo
As maiores que me acertaram
Construí blocos a mais de maturidade,
Mesmo com grandes feridas,
É assim que reconstruo minha vaidade.


Ainda quando me lembro
Ao escutar "All I Need" tocar
Daquele melódico piano, surgem
Seu rosto, nossas horas, tua voz.
E na descoberta atroz,
É só uma história, à margem.


Voltam Agostos a Dezembros.
Aqueço-me, às vezes, em lágrimas.
Eternas em sua maneira de expressar.
Enchendo-me de duras lástimas,
Lendo tua caligrafia em meu caderno.


Você, eterno príncipe morto,
Sempre andaremos de mãos dadas
E em ti, o essencial absorvo.
Em nossa época antepassada
Eu continuo me perguntando,


Senhor, será que o mereço?

Então, o senhor me respondeu.
Sim, tu mereces a vida,
O cálice que te ofereci,
Transbordando de excitação.
Almeje e alcance a plenitude.


Você merece, pequeno ser.

O passado basta por si só.
E estará sempre lá.
Talhado em rochas do tempo.
Cicatrizadas em um duro processo
Eis que palavras também se fragilizam
E desejam finalmente descansar,
Desaparecer.


Eu te encarcero na minha história.

Lucas Zeni

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Uncertainties Deep





















Quem seria capaz de te amar
Depois de anos do fim?
Depois de todo temporal emocional?
Capaz de buscar no fundo da própria essência
Um resgate já quase esquecido?
Tantos anos secos de esquecimento,
Iras e memórias.
Tentados ao esquecimento.
E sempre direcionados a ti,
Príncipe antigo de sonhos também antigos.

Como entender algumas lágrimas,
Ao ouvir tal canção,
Serem derramadas sem esforço.
E com espanto te digo,
As sinto carregadas de lembranças doces.
Doces de um olhar quase infantil.
Doces de uma voz comum.
Entusiástica, forte, rápida e decidida.

Não me condenes como estúpido.
Deixe-me imerso nas minhas tristezas e julgamentos.
Segue tua vida nesse caminho incerto,
Muitas vezes igual ao meu,
Quem sabe, felizmente,
Esperançoso e crente que a vida irá,
De algum lado, voltar a te surpreender.

Segue esforçado, um dia,
Encontramo-nos no princípio da nossa essência,
Ironicamente idêntica, mas cega,
Só por seguir paralela.
Olhando-se de longe e se perdendo.
Até quando alguém queira.

Lucas Zeni